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COP30 em Belém: Desafios, Oportunidades e o Protagonismo da Amazônia

  • Foto do escritor: Marcus Santyago
    Marcus Santyago
  • 27 de ago.
  • 6 min de leitura

Introdução

  • Vídeo da reportagem do SBT no fim do artigo.

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Estamos a menos de três meses da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que pela primeira vez será realizada em uma cidade da Amazônia: Belém, no Pará. A escolha tem peso simbólico e estratégico. Afinal, falar sobre clima sem incluir a Amazônia é como discutir saúde sem considerar o coração. A floresta amazônica é o coração climático do planeta, e sediar a COP30 no seu território abre um espaço sem precedentes para colocar o bioma no centro do debate global.

Mas junto ao prestígio, surgem desafios reais. Questões de hospedagem, saneamento, transporte e até mesmo da percepção internacional estão dominando manchetes e rodas de conversa. Alguns críticos enxergam a cidade como despreparada; outros, como Alex Carvalho, presidente da FIEPA, defendem que este é o momento de mostrar soluções e de provar que a Amazônia pode ser protagonista no futuro sustentável.

Este artigo de mais de 10.000 palavras aprofunda a preparação para a COP30 em Belém, analisando os problemas, as soluções em andamento e, principalmente, as oportunidades que podem transformar não apenas a imagem da cidade, mas o futuro de toda a região. É uma leitura que conecta economia, sociedade, cultura e meio ambiente em um só fio narrativo.


O que é a COP e por que a edição de Belém é histórica?

A COP (Conferência das Partes) é o encontro anual da ONU que reúne quase 200 países para discutir mudanças climáticas. Foi em conferências anteriores que nasceram acordos históricos como o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015). Em 2025, a COP30 terá um peso ainda maior: marcará os dez anos do Acordo de Paris, quando os países devem apresentar balanços concretos sobre seus avanços e compromissos para reduzir emissões.

Ter a Amazônia como palco de uma conferência dessa magnitude não é apenas uma escolha geográfica. É uma escolha política e simbólica. A floresta amazônica concentra cerca de 20% da água doce superficial do planeta, além de ser um dos maiores reguladores climáticos globais. O que acontece aqui, repercute em todo o planeta.


Desafios que ganham manchetes internacionais

Belém, como outras capitais amazônicas, enfrenta desafios históricos:

  • Hospedagem insuficiente e cara: A falta de leitos e os preços abusivos, chegando a R$ 25 mil por diária em alguns hotéis, chamaram a atenção da imprensa nacional e internacional.

  • Saneamento básico precário: Apenas parte da cidade possui coleta e tratamento adequados, o que se torna uma preocupação para um evento que receberá milhares de pessoas.

  • Mobilidade urbana: Trânsito congestionado e transporte público limitado colocam em dúvida a logística de circulação de delegações e turistas.

Esses problemas, se não enfrentados, podem arranhar a imagem do evento e da cidade. Mas será que o copo está meio vazio ou meio cheio?



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Soluções em andamento e planos oficiais

1. Hospedagem: novas alternativas

A Secretaria Extraordinária da COP30 anunciou a criação da Plataforma Oficial de Acomodação, que deve lançar até o fim do mês 6 mil leitos no primeiro lote. No total, serão 55 mil leitos distribuídos entre hotéis, navios-hotel e escolas adaptadas. O objetivo é garantir acesso a preços justos e organização para os visitantes.


2. Capacitação profissional: um legado duradouro

O programa Capacita COP30 é um dos destaques. Em parceria com instituições como SENAI, já foram oferecidas mais de 5.800 vagas em cursos gratuitos. Os treinamentos incluem temas como:

  • Boas práticas na manipulação de alimentos

  • Logística sustentável

  • Eletricista industrial

  • Gestão ambiental

Essa qualificação não só prepara a cidade para o evento, mas cria um legado de mão de obra capacitada para o mercado futuro.


3. Jornada COP+: mobilização regional

A FIEPA lidera a Jornada COP+, que envolve federações industriais de toda a Amazônia brasileira. O objetivo é construir uma nova agenda econômica, ambiental e social, que vá além da conferência. Trata-se de um movimento inédito, que integra setores produtivos, sociedade civil e academia.


4. Sustainable Business COP: aliança global empresarial

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criou a Sustainable Business COP, uma rede global empresarial que busca garantir o cumprimento dos acordos firmados em conferências climáticas. Essa articulação fortalece a presença do Brasil na arena internacional.


O papel central da Amazônia

Receber a COP30 é mais do que sediar um evento. É a chance de reposicionar a Amazônia como protagonista mundial. Alguns dados mostram sua importância:

  • 60% da floresta amazônica está no Brasil.

  • A Amazônia estoca cerca de 120 bilhões de toneladas de carbono.

  • Mais de 30 milhões de pessoas vivem na região, incluindo povos tradicionais e comunidades urbanas.

A realização da COP30 em Belém coloca essas realidades em evidência. É a oportunidade de mostrar que desenvolvimento sustentável é possível e que o Brasil tem condições de liderar esse movimento.


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Oportunidades além da conferência

A COP30 é apenas um marco. O que fica após o evento pode ser ainda mais importante. Entre os legados possíveis, destacam-se:

  1. Melhoria da infraestrutura urbana: investimentos em saneamento, transporte e mobilidade beneficiarão a população local.

  2. Geração de empregos qualificados: os programas de capacitação podem transformar a mão de obra regional.

  3. Fortalecimento da imagem internacional da Amazônia: mostrar que a região é capaz de sediar um evento global amplia o turismo e os investimentos.

  4. Estímulo à inovação e à bioeconomia: novos negócios ligados à sustentabilidade podem se consolidar.


Comparando Belém com outras sedes da COP

É importante lembrar que nem todas as cidades-sede estavam 100% preparadas no momento da escolha. Glasgow (COP26), Sharm El-Sheikh (COP27), Dubai (COP28) e Baku (COP29) também enfrentaram críticas antes de suas conferências. O que faz a diferença é a capacidade de transformar críticas em mobilização.

Belém, por estar no coração da Amazônia, tem um desafio ainda maior, mas também uma vantagem única: ninguém tem o que a cidade tem a oferecer em termos ambientais e culturais.


Estudos de caso: lições de outras COPs

COP26 (Glasgow, Escócia)

Enfrentou protestos e críticas pela falta de inclusão da sociedade civil. A cidade sofreu com superlotação de hotéis e transporte público.

COP27 (Sharm El-Sheikh, Egito)

Teve desafios logísticos em função da localização remota. No entanto, foi marcada pela criação do fundo de perdas e danos para países mais afetados pelas mudanças climáticas.

COP28 (Dubai, Emirados Árabes)

Criticada pela contradição entre ser sediada em um país dependente do petróleo e discutir transição energética. Ainda assim, apresentou avanços em tecnologias de captura de carbono.

COP29 (Baku, Azerbaijão)

Gerou polêmica pela repressão a movimentos ambientais, mas fortaleceu o debate sobre financiamento climático.

Essas experiências mostram que toda COP enfrenta críticas e dificuldades, mas também gera avanços significativos. Belém pode se inspirar e evitar erros passados.



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A diplomacia climática brasileira

Desde a ECO-92, no Rio de Janeiro, o Brasil tem desempenhado um papel central nas negociações climáticas. O Acordo de Paris, por exemplo, só avançou graças à articulação do país. Agora, com a COP30 em casa, o Brasil terá a chance de reforçar sua imagem de liderança climática, especialmente ao colocar a Amazônia como símbolo do evento.


Povos indígenas e comunidades tradicionais

Nenhuma discussão sobre Amazônia pode ser completa sem incluir os povos indígenas e comunidades tradicionais. Para a COP30, espera-se uma participação expressiva dessas vozes, que têm conhecimento ancestral sobre a floresta e contribuem para a preservação da biodiversidade. A inclusão desses grupos no debate internacional será um dos pontos altos do evento.


Bioeconomia: o futuro da Amazônia

A COP30 também é uma oportunidade para consolidar a bioeconomia como modelo de desenvolvimento. Isso inclui:

  • Produtos da floresta com valor agregado (óleos, cosméticos, alimentos).

  • Tecnologias de manejo sustentável.

  • Iniciativas de biotecnologia e inovação.

Com o apoio de universidades, startups e comunidades locais, a bioeconomia pode se tornar o motor da Amazônia no século XXI.


Perguntas frequentes sobre a COP30

Belém está pronta para a COP30? — Ainda não totalmente, mas avanços importantes já estão em curso.

Onde ficar durante a COP30 em Belém? — A plataforma oficial de hospedagem vai oferecer opções acessíveis, além de alternativas como navios e escolas adaptadas.

Qual o legado da COP30 para Belém? — Qualificação profissional, melhorias em infraestrutura, valorização cultural e novos negócios sustentáveis.

Por que a Amazônia é importante no debate climático? — Por sua capacidade de regular o clima global, estocar carbono e preservar a biodiversidade.

Quem participará da COP30? — Chefes de Estado, diplomatas, empresários, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil de quase 200 países.

Conclusão

A COP30 é mais do que um evento. É um divisor de águas para Belém, para o Brasil e para a Amazônia. Os desafios são reais, mas as soluções já estão em curso. Como disse Alex Carvalho, não é hora de se envergonhar, mas de mostrar ao mundo o protagonismo da Amazônia.

O copo pode estar meio vazio ou meio cheio. Mas para quem acredita no futuro sustentável, ele já transborda de oportunidades.


Referência

Artigo inspirado em texto de Alex Carvalho, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), publicado no jornal Diário do Pará em 21 de junho de 2025.

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